“É bonito de se ver
A lua embranquecer
O Mar, de madrugada,
Em frente ao quebra-mar” Quebra-Mar

É impossível ouvir Dori Caymmi e não se sentir feliz. É provocante porque a voz de Dori é triste, carregada, é densa, mas canta sobre as belezas do amor, da natureza, das nossas emoções. Na canção “Quebra-Mar”, coescrita com Paulo César Pinheiro, a melancolia de observar a noite numa praia deserta se torna uma das imagens mais lindas da paisagem poética. Não à toa, o show apresentado por Dori no Festival Jazz & Blues 2018 foi “Voz de Mágoa” – título que faz referência à voz de seu pai, Dorival Caymmi e à própria particularidade musical.

Na noite de ontem, 15, Dori inaugurou a programação do Festival no Cineteatro São Luiz em Fortaleza. O evento que mexeu com a cidade serrana de Guaramiranga até terça, 13, desceu a capital para fazer um “segundo round”. Dori havia se apresentado na segunda às 21h na Cidade Jazz & Blues num frio ainda mais melancólico, e ontem esteve em Fortaleza; em ambos os shows, a plateia se envolveu muito com a condução do show, e saiu visivelmente emocionada.

O que há de mais emocionante é que não é uma questão que depende da nostalgia. Dori cantou grandes composições suas, de seu pai, e muitas outras conhecidas, mas a plateia também era recheada de gente jovem que se emocionava, e aplaudia de pé. No palco, os “garotos” que conduziram sua música nos outros instrumentos, evocam em conjunto uma poesia sonora que alcança quem escuta, e isso é incrível.

Humorado durante os shows, Dori Caymmi fez comentários sobre sua idade. Mas ele parece cada vez mais jovem, inspirado, emocionado com a própria arte, sempre promovendo retorno de quem subiu a serra ou foi ao centro da cidade atrás de sentir a música em toda sua felicidade e brilhante desolação.

É feliz a voz do vento, é contente a voz da água
Mas o meu contentamento sai de mim com voz de mágoa
Mas se eu canto a dor que existe
É que sei que lá no fundo, todo canto, mesmo triste
Ameniza a dor do mundo. Voz de Mágoa