Qualquer semelhança com a realidade é (mais que) mera coincidência. Um senador vaidoso convida seus pares para a “5ª reunião da celebração anual da aliança republicanista”. Mas a lista de penetras e o talento de uma dupla de repentistas acabam transformando a esbórnia dos políticos em um verdadeiro vexame para o anfitrião com direito a escândalos bem típicos dos tempos que vivemos hoje no Planalto Central. Esse é o roteiro do curta-metragem Diz A Lenda, que será lançado no próximo dia 11 de outubro, às 19h, no Cineteatro São Luiz, durante a Semana do Audiovisual Cearense com mostras de filmes exclusivos da Terra da Luz.
O curta, como o nome sugere, poderia ser uma lenda urbana, mas é apenas uma caricatura da nossa mais crua e dura realidade. O filme conta uma história ficcional que traz como base um desafio de cordel, ácido e bem humorado. O cordel que inspirou o roteirista e diretor Márcio Del Picchia é “Cantoria de Excelência” do escritor, poeta, cordelista, compositor e juiz federal cearense, Marcos Mairton. O juiz ficou famoso ao proferir a primeira sentença em formato de cordel e logo se notabilizou por outras publicações.
De acordo com Del Picchia, a intenção foi levar através da sétima arte, o que pensam e dizem os nossos poetas populares sobre o cotidiano da política. “É um dos poucos filmes nacionais que se inspiram na literatura de cordel como mote. E ainda mais um cordel que aborda as mazelas dos nossos políticos, quer dizer, dos políticos em geral de um país fictício”, enfatiza.
Cenário
Sem financiamento público, Diz A Lenda teve um custo de R$ 30 mil e o enredo se passa na Câmara Municipal de Aracati, no Litoral Leste do Estado, prédio histórico do Poder Legislativo, palco da política real do Município e da trama ficcional do curta.
A escolha do cenário, além de representar a atmosfera que o filme requer, tem a ver com as próprias preferências do cineasta. Marcio Del Picchia é um paulistano radicado em Canoa Quebrada, apaixonado pelo Ceará, intelectual inquieto que sente a necessidade de popularizar o cinema, propondo reflexões a partir dos temas que apresenta, além de contribuir para o desenvolvimento cultural da terra que o acolheu.
“Vimos que a literatura de cordel tão cara a cultura nacional, especialmente enraizada no Nordeste do país, encontra-se, hoje, muito abaixo de sua devida importância, por isso decidimos fazer uma homenagem a essa expressiva arte e levar adiante o projeto”, comenta Del Picchia.
Elenco
Repetindo a receita de sucesso que marca sua produção audiovisual, o cineasta escalou mais uma vez um elenco de atores e não atores, prestigiando alguns nomes da dramaturgia cearense, como Alcântara Costa, que protagoniza o enredo.
“A princípio a ideia foi apostar em um caminho democrático, saudável, mas depois a gente viu que o resultado dessa experiência foi muito positivo e acabamos replicando nos outros filmes. Então, temos essa mistura de profissionais e não profissionais, que agrega também outros estados e até diretores de outros países. E o resultado faz melhorar a qualidade porque existe a mesma cobrança para todos”, comenta.