National Geographic financiará novas escavações no sítio arqueológico da Serra do Evaristo, no Maciço de Baturité. Mas, a pesquisa depende do avanço da vacinação contra a covid. Parte das descobertas anteriores foram perdidas no incêndio do Museu Nacional
A partir de uma nova escavação, o arqueólogo cearense Vinicius Franco pretende revisitar o sítio arqueológico Evaristo I, localizado na Serra do Evaristo, em Baturité, considerado de grande importância para compreensão do processo de ocupação do território cearense, o qual obteve uma datação por C14 de aproximadamente 700 anos.
O pesquisador que é doutorando e mestre no Programa de Pós-graduação em Arqueologia do Museu Nacional (UFRJ) busca esclarecer questões relacionadas à formação e cronologia, delimitação, uso e função do espaço do sítio arqueológico, como também o processo de ocupação daquela região.
“Um estudo mais aprofundado do material osteológico proveniente desse sítio poderá trazer novas informações sobre a saúde bucal e padrão dietário dessa população, o que poderia contribuir para o início das discussões sobre as estratégias de subsistência desses grupos”, explica Vinicius.
A pesquisa será coordenada pela doutora Andrea Lessa, professora titular do Programa de Pós-graduação em Arqueologia do Museu Nacional (UFRJ), no Rio de Janeiro; e pelo doutor Sérgio Monteiro, professor do curso de arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife, com o apoio científico do Instituto de Arqueologia e Patrimônio Cultural do Ceará – Instituto Tembetá, instituição de guarda arqueológica cadastrada pelo IPHAN, com sede em Fortaleza.
Sítio arqueológico
O sítio Evaristo I está inserido no topo de uma serra no mesmo lugar onde se encontra um dos Quilombos mais antigos do estado do Ceará, reconhecido pelo Instituto Palmares desde 2010. “A comunidade do Evaristo possui grande interesse no desenvolvimento das pesquisas arqueológicos na serra, é tanto que a primeira escavação, em 2012, ocorreu após anos de pedidos enviados ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, no Ceará, e teve grande envolvimento da comunidade local”, acrescenta.
O projeto está em fase de revisão e em breve será encaminhado para análise na superintendência do IPHAN no Ceará, com vistas a aquisição de Licença de Pesquisa.
Financiamento internacional
Após um rígido processo de seleção, a National Geographic premiou, em 2019, o projeto de doutorado de Vinicius Franco com o título em inglês “New perspectives for pre-colonial northeast brazillian cultures through funeral urns” (em português, “Novas perspectivas para as culturas pré-coloniais do nordeste brasileiro por meio de urnas funerárias”).
Mas, devido a pandemia de covid-19, a National Geographic, orientou, em reunião realizada no mês de março deste ano, que os trabalhos de campo somente aconteçam após o programa de vacinação nacional alcançar o patamar de 80% da população imunizada, o que só deverá ocorrer em meados do segundo semestre de 2021.
“A gente está falando de uma comunidade que está isolada. O acesso ainda é difícil e que pode ser afetada de alguma forma por causa do coronavírus. Por isso, essa medida de precaução”, explica Vinicius.
O arqueólogo pondera que, apesar do investimento do prêmio da National Geographic e de outras instituições nacionais, devido à pandemia, à alta do dólar e à condição econômica atual do país, o projeto demanda um orçamento complementar, que poderia ser financiado pelo poder público ou pela iniciativa privada.
História perdida
Um pouco da história cearense foi perdida no incêndio que destruiu o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, em 2018. O fogo atingiu praticamente toda a pesquisa sobre amostras de ossos humanos e de animais encontrados na Serra do Evaristo. Além disso, peças de cerâmicas e ossos de animais que viveram na pré-história, encontrados em território cearense, que estavam no museu foram completamente destruídos.
“São amostras pequenas, retiradas dos ossos, que seriam analisadas para elucidação da dieta do grupo que ocupava a serra por volta do ano de 1.300. É um material bem significativo, que poderia ajudar a compreender o processo de ocupação do território cearense. Mas, temos expectativa de avançarmos nessas novas escavações e conseguirmos descobertas promissoras”, pontua.
O pesquisador
Vinicius Franco é doutorando e mestre no Programa de Pós-graduação em Arqueologia do Museu Nacional (UFRJ), cientista social (UFC), especialista em Cultura Material e Arqueologia (UPF) e técnico em Restauro de Bens Móveis e Imóveis, pela Escola de Artes e Ofícios (AEO), do Instituto Dragão do Mar (Secult) do Governo do estado do Ceará. Franco estuda o processo de ocupação do continente sul-americano com foco nas pesquisas sobre antropologia biológica, datação e cronologia e análises químicas de isótopos estáveis de carbono e nitrogênio.