Com o tema “O Varejo 360°: Conectando Experiência, Tecnologia e Sustentabilidade”, a 19ª edição do Cenários do Varejo, realizado no dia 16 de maio, no Teatro RioMar Fortaleza, reuniu empresários, especialistas, autoridades e entusiastas do setor varejista em torno das principais tendências e transformações do comércio. A inteligência artificial (IA) assumiu papel central nos debates e se consolidou como um dos principais vetores da inovação no varejo.
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Logo na abertura, o presidente da CDL Fortaleza, Assis Cavalcante, destacou como a IA está revolucionando o relacionamento entre empresas e consumidores. Segundo ele, tecnologias de análise de dados já permitem mapear o comportamento de compra por região da cidade e personalizar campanhas de marketing digital com precisão cirúrgica. “Você pode, por exemplo, direcionar uma campanha por SMS apenas para o bairro onde as vendas estão mais fracas, ou evitar divulgar um produto premium em regiões onde ele não teria aderência”, explicou.
Assis Cavalcante também destacou a importância da IA na prevenção de fraudes, citando o monitoramento constante do CPF e CNPJ dos empresários por sistemas como o SPC. “A inteligência artificial funciona 24 horas, sete dias por semana, protegendo o empresário de tentativas de golpe ou movimentações suspeitas em seu nome”, afirmou.
Entre os setores que mais devem se beneficiar da IA, segundo Cavalcante, estão supermercados e farmácias, que lidam com grandes volumes de transações e margens apertadas. “A inteligência artificial ajuda a evitar falhas no estoque, algo que pode custar muito caro”, pontuou.
O consultor Eduardo Yamashita trouxe para os participantes uma análise do cenário global, destacando que a velocidade da transformação no varejo é sem precedentes. “A IA será o novo Excel”, declarou. Ele explicou que a tecnologia deve se tornar ferramenta cotidiana, não apenas para grandes corporações, mas também para pequenos e médios varejistas, que têm mais agilidade para se adaptar. “O uso de IA vai desde a previsão de demanda e controle de estoques até a escolha do número ideal de caixas em uma loja”, afirmou.
Yamashita também destacou a dificuldade de prever o futuro do setor. “Os grandes varejistas não estão fazendo planejamentos acima de três anos, porque a velocidade das mudanças tecnológicas e comportamentais é enorme. E a IA é o grande motor disso”, completou.
Já o palestrante Assis Júnior trouxe um olhar mais humanizado ao discutir o conceito de slow retail — um varejo mais cadenciado e voltado para a experiência do cliente. “Estamos vendo lojas físicas se tornarem espaços de interação, com realidade aumentada, bots personalizados e ambientes que incentivam a permanência e a escolha consciente”, explicou. Para ele, a integração entre canais físicos e digitais é um caminho sem volta, desde que feita com foco na jornada do cliente.
Inclusão e futuro do varejo
A secretária de Ciências e Tecnologia do Ceará, Sandra Monteiro, abordou o papel da IA na inclusão e no fomento ao empreendedorismo negro, especialmente feminino. Em sua fala, ela destacou a importância de facilitar o acesso à tecnologia, crédito e redes de mentoria para empreendedoras negras. “A inteligência artificial pode ser usada para otimizar tempo, organizar a rotina e ampliar oportunidades, especialmente para as mulheres que precisam equilibrar trabalho e vida pessoal”, afirmou.
Já o representante do Ministério do Empreendedorismo, Dayvison Araújo Roque, que veio prestigiar o evento, reforçou o papel estratégico do setor de micro e pequenas empresas, que hoje representam 99% dos CNPJs no país. “Eventos como este mostram que o futuro do varejo passa por apoiar os pequenos com tecnologia, capacitação e acesso a ferramentas que antes só grandes empresas tinham”, acrescentou.
Encerrando as palestras da manhã, Marcos Gouvêa, diretor da Gouvêa Ecosystem, fez um alerta sobre a multipolarização econômica global e o impacto direto disso no varejo. Segundo ele, a liderança tecnológica asiática, especialmente da China e da Índia, está moldando o novo equilíbrio de forças no comércio mundial. Gouvêa também ressaltou a importância de integrar serviços ao varejo, como já fazem redes de farmácias, supermercados e até marcas de sabão e carnes. “O futuro do varejo está na conexão direta com o consumidor, seja por meio de experiência, serviço ou conveniência digital”, afirmou.
Além das tendências tecnológicas, Gouvêa também abordou desafios estruturais como a inflação de alimentos, que afeta principalmente as classes C, D e E, e o impacto da reforma tributária sobre o setor de serviços. Para ele, é essencial criar mecanismos que ajudem os pequenos negócios a sobreviver e prosperar nesse ambiente cada vez mais competitivo.
Impacto da IA e das Tecnologias Emergentes no Varejo
O evento prossegue com o painel “O impacto da IA e das Tecnologias Emergentes no Varejo”, tema explorado pela professora e consultora Regiane Romano, abordando a transformação digital e seus reflexos nas operações comerciais no Brasil e no mundo.
Regiane inicia destacando que “várias são as tecnologias que estão impactando diretamente a operação da loja, começando pelo básico, por um sistema de gestão, até chegar à inteligência artificial” Ela ressalta que a base da IA é a qualidade dos dados, afirmando que “eu preciso ter os dados capturados de forma muito correta, trazendo insights para o varejo para que ele possa depois tomar a decisão. ”
A palestrante enfatiza o potencial transformador da inteligência artificial na experiência do consumidor e na gestão de empresas de todos os portes, dizendo que “a inteligência artificial traz uma série de recursos que poderão transformar a experiência do consumidor e a gestão do pequeno, do médio e do grande varejista. ”
Ela também acredita no protagonismo do Brasil no cenário global: “Aqui, no Brasil, estamos com muitas oportunidades de começar a criar Startups nesta área e colocar o Brasil como protagonista nessa transformação que está acontecendo no mundo inteiro. ”
A IA na cadeia alimentar e expansão global de marca
Severino Neto, proprietário do Mercadinho São Luiz, compartilha sua experiência prática e visão sobre o setor supermercadista, e destaca a importância de eventos como esse para atualização profissional. “Mais uma vez, estou me atualizando por meio da CDL. Este é um excelente momento e como já foram tantos anos, fazer um balanço do que aconteceu na principal feira mundial do mundo, a NRF, é muito importante. Ele também ressaltou a aplicabilidade da inteligência artificial no setor supermercadista, especialmente por lidar com grandes volumes de dados. “Trabalhamos com números expressivos e uma quantidade gigantesca de informações, que nos permite atender com maior precisão”.
Já no painel referente ao setor da moda, o vice-presidente da Água de Coco, Renato Thomaz, apresentou a trajetória e expansão global da empresa e as estratégias inovadoras junto ao público, e comentou “estar participando de um evento desse porte é muito importante. O Ceará é um polo gigantesco de indústria e comércio, e o que observo é que, além das boas experiências, o Cenários do Varejo reúne profissionais incríveis”.
Ângelo Vieira — executivo, conselheiro e professor — trouxe para o evento reflexões sobre o futuro do varejo, abordando o tema Varejo 2030: Futuro, Oportunidades e a Transformação nos Pequenos e Médios Negócios”. Em sua fala ele destacou caminhos viáveis e sustentáveis para o desenvolvimento do setor, sempre com foco na valorização da criatividade, da resiliência e da força do comércio local.
Um dos pontos centrais da palestra foi a crítica ao excesso de dependência da tecnologia, chamando atenção para o equilíbrio necessário que deve existir entre inovação e autenticidade nos negócios. “Não é a inteligência artificial isolada que vai levar o negócio de vocês para outro lugar. Não é só a loja física também, puramente solta, que vai fazer essa experiência sensorial ser levada adiante. As estratégias precisam ser integradas e centradas na experiência do consumidor, especialmente em empresas de nicho e com forte conexão com seus públicos”, disse.
Por Paulo Martins